terça-feira, 21 de dezembro de 2010

At Last!

Acordei tocado pelo sobrenatural. Talvez, pelo divino. Um sopapo no rosto e um sopro de vida.

Decido viver e viver bem. Admito a minha saúde frágil. Aceito esses meus obstáculos, que são os menores, comparados à grandiosidade dos últimos eventos.

Hoje o sol me abraça. Oh minha pequena valsa sorridente.

Finalmente essa cidade já não é mais tão cinza. Não é cinza pelo sol e muito menos cinza por você ser o meu sol no coração e na mente.

Decidi, por vez, crescer, como nunca o fiz antes. Tracei objetivos puros e felizes. Mudarei em breve, essa minha rotina tão decrépita. Me bastaram as atitudes inconsequentes.

Cuidarei de mim, para poder abraçar o meu sol novamente e encontrar nos seus olhos, todo o brilho das estrelas que tirei do céu e te dei.

E por mais triste que possam ser os resultados, tenho total certeza de que pior mesmo, seria morrer sem ter tido nada disso.

Penso comigo, se isso não é aquele sabor doce, que me falaram outra vez.

Quem sabe.... Só o tempo dirá.

Mas enquanto não chegam às respostas, sinta este abraço, o calor do meu coração e toda a sinceridade que desde aquele entardecer, não consigo controlar.

Então, se não se importa em esperar, eu não me importo de arriscar.

E peço, com ternura, canta pra mim mais uma vez?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Submerso no sopro da deusa

Foto: Marlon Marinho

Era mais uma noite solitária. Me sentia vazio e sem grandes expectativas.
Resolvi pegar o carro e dar uma volta por ai. Coloquei um som bacana e boêmio, como sempre, claro. Sigo sem destino até sentir o cheiro de algo quente. Sigo sem pensar muito, apenas me deixo levar pelo som. Vou me degustando aos poucos com as pinturas noturnas e todas as figuras interessantes que brotam das sombras. Figuras em neon verde, vermelho, azul... Lilas. Putas, todas putas. Cheias de amor, muita bebida na cabeça e mais o que os vícios podem suportar. Paro no farol e mexo com uma delas para me divertir, diz que é material de primeira linha. Que seria o primeiro a aproveitar dos novos seios fartos. O farol abriu, disse “me desculpa doçura, mas só queria me divertir nesse farol chato, fica pra uma próxima”, “sem problemas, bonitão. Precisando, sabe onde achar a Cléo”. Passou as costas da mão no meu rosto e saiu. Segui reto. Vejo vários saltos e sinto vontade de fotografar essas mulheres tão cheias de histórias. Quem sabe um dia, pois a hora agora é de música. Sim! Música!
Viro aqui e ali e passo por alguns lugares. Todos cheios e infestados de pessoas novas, bestas e bêbadas. Me decepciono, aumento o som, me animo de novo. Passo por uma rua e paro no farol. Observo algumas pessoas tomando cerveja nas calçadas. Elas até olham para mim e logo depois se viram. Viro o carro com o intuito de ficar por ali mesmo. Num estalo lembro-me de um lugar que me recomendaram. Adianto e viro à esquerda. Rua estreita. De paralelepípedo. Paro na frente do local e sinto aquele cheiro selvagem. Vejo pessoas bacanas e o melhor, mais velhas. Penso que esta pode ser uma ótima oportunidade para conhecer o local que tanto ouvi falar. Paro o carro e desço. Entro e reparo na penumbra. Ouço um som distante, lento, pesado e sexy. Sim, é blues! E é aqui que vou ficar. Pulo no balcão e peço uma Dunkel, só para começar. Deixo minhas pernas me levarem para onde meu ouvido me diz para ir. Os olhos entram em colapso, quero ver tudo o que ta rolando por aqui. Cara! Saca só essa galera toda. Pessoas jogadas, algumas bem doidas, só curtindo o som. Descolo um canto, num pilar e observo os músicos. Bebo a cerveja lentamente, saboreio e fecho os olhos, quando meu corpo pede mais do que apenas ver e ouvir. Aplausos, assobios e ovações. Faço o mesmo. Quando vejo já se passaram umas duas músicas. Numa terceira reparo aquela garota. Ela não me olha pela primeira vez. E eu muito menos. Sintonia ou vidas passadas. Realmente não importa. Estou me sentindo bem e mesmo assim tomo coragem para segui-la quando sai do local, me jogando um olhar curioso. Ela para no bar para pegar um drink, peço outra cerveja. Ela encosta os cotovelos no balcão e balança as pernas no ritmo da música, agora um pouco mais agitada. Faz bico como quem gosta do clima e da música. Mas faz bico pra fazer charme. Me viro em direção a ela e não falo nada. Ela me olha e solta um sorriso. Ambos sorrimos. Minha cerveja chega. Reparo naqueles olhos atraentes. Dois pequenos abismos repletos de succubus. Um sorriso tímido e agradável. Não demonstra timidez, mas nem por isso decidiu falar muito. Não era preciso. Ela é arquiteta. Não me impressiono, afinal tantos são os arquitetos que conheci que possuem extremo bom gosto. Teorizo sobre. Ela ri e diz que na sala dela só tem um bando de garotos filhinhos de papai que acham legal “brincar de arquiteto”. Apesar do comentário, me pareceu forçado. Sugiro sentarmos em uma mesa. Ela aceita. A conversa segue agradável. Nenhum flerte, nenhuma brincadeira boba, nem momentos de constrangimento e nenhuma pressa. Gosto. Respiro fundo. Ela sorri. Ficamos quietos olhando o movimento.
- O que foi? – Diz numa voz curiosa. Voz doce.
- É que eu busco algumas coisas na minha vida. Momentos assim, fazem parte dessa busca.
- E o que é esse momento para você?
- Isso tudo. Não sente?
- Hum. Talvez. Mas aposto que não esta próximo de como eu aproveito isso.
- Hum – Tomo um gole – Bom saber que esta aproveitando, mas não pretendo sentir mais ou menos. Só pretendo que não levante dessa mesa.
- É mesmo?
- Precisamente.
- Então vou pegar uma cerveja.
- Não! Amigo! Opa!
Se aproxima um rapaz bem animado.
- Pode pedir. – Digo eu.
Reparo em como apóia o braço no encosto da cadeira para fazer o pedido. A alça da blusinha cai. Pele sujestiva. Ela arruma enquanto pede ao garçom.
Um casal bem vestido acaba de entrar. Um homem já com uma certa idade vestindo um blazer azul escuro. Achei bacana. Bem bacana aquele azul. Um grupo ri mais atrás de algo que nunca saberei. Garotos barbados no estilo Los Hermanos. E quase dou risada em reparar como as garotas que estão com eles parecem ser bem mais novas. Giro um pouco a visão e reparo numa garçonete linda dando alguma explicação sobre cerveja para dois rapazes. Um deles reafirma alguma coisa e o outro discorda. Foi uma piada. Dão risada. Uma garota vestindo um blusão moletom do Mikey Mouse e uma calça leg acaba de passar na frente da minha visão. Passa cambaleando. Ela para, vira pra minha direção e olha para o infinito. Parecia estar pensando, mas não, devia estar curtindo uma bela trip. Afinal, naquelas roupas, é só o que podia estar fazendo.
- Hahahaha. Queria saber o que tanto entretém ela.
- Olha. Realmente não sei, mas por mim ela pode ficar ai até amanhã ME entretendo – disse eu
- Pode apostar que ela vai ficar ai um tempão.
- Ou achar que ficou um tempão.
Rimos e voltamos ao assunto. Não lembro bem o que era. Falava pouco, mas com convicção e cautela para não se expor muito. Me abstrai. Foram os olhos, mais do que a alça da blusinha que tanto incitou meus desejos carnais. Malditos olhos. Foi difícil. Deveria ser difícil para qualquer homem. Certeza! Ela percebeu que quase falava sozinha, mas gostava, se sentia bonita. Chamei para irmos ver a banda que estava voltando da pausa. Vamos bem juntos, lugar pequeno. Sinto seu cheiro. Dou graças de não ser cheiro de puta, nem de tiazona, nem de patricinha, nem de menininha. Era cheiro de mulher. Man! Que mulher! Curvas que não escapam dos meus olhos. Confesso. Não tinha uma beleza estupenda como de atrizes de filmes, mas era bonita. E aquele charme, meu camarada... Sabe mulher? Pois é. Mulher!!! Não procuro por bonecas de porcelana.

- Dança comigo?

Oooh boy! Que noite!

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"Do you feeeeel like swimming?"

sábado, 13 de novembro de 2010

Suprise! You're Dead!

Num susto eis que pula em cima de mim. Resultado de tantas indecisões. Cá estou no chão, sentindo a face pulsando. Assusto-me por alguns segundos pensando que agora será meu fim. Recobro minha consciência e resolvo desviar do golpe seguinte. Tento organizar algumas idéias, planejar um contra-ataque. Penso em todos os dissabores que terei daqui em diante e em como as coisas vão mudar. Uma pena que tudo muda de gosto. Nesse caso, sinto gosto de sangue. Caio no chão de novo e recebo diversos golpes. Não consigo pensar, falar, nem reagir. Surto e escapo para tomar distância e refletir e respirar. Sinto as dores, mal consigo ficar em pé. Sou fuzilado por uma ansiedade e preocupação. Um dos meus órgãos não esta assim, aquele mar de rosas, justamente por isso, me imagino num hospital não importando o resultado desse conflito.

Diabos!!!

Mas que tipo de atitudes são essas? É duro enfrentar uma criança crescida e forte. Seres maduros só chegam a tais circunstâncias quando as condições para a compreensão se tornam nulas e floresce o atrito da ira e os santos não batem e as arrogâncias viram pauta e a voz alta se torna constante, assim como o monossílabo. Isso aqui é ridículo! Preciso parar de pensar.

Saco!

Me joga uma garrafa, que me pega na perna. Não sinto nada, vou pra cima...

Mias um dia acordando sentindo dores. Ainda estou vivo e não estou tão ferrado assim. Mais um dia triste. Fico triste pelas perdas que tive. Por tudo que aconteceu. Lá se foram algumas amizades. Temo a verdade, de que nenhum segredo será contado para mim. Não farei parte de reuniões e serei excomungado para todo o sempre. Temo que não terei visitas, além daqueles que realmente me valem a pena........................ E quer saber, no fundo, penso que só eles me importam. Terminam então as lamúrias. Alguém entra no quarto, passo um dia muito bom. Fecho o olho e durmo sem remorsos, sem medos e cheio de certezas.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Pedaços de Massa Encefálica II

“Escrevo o que escrevo sem pensar, sem montar, apenas escrevo.”

Queria saber de onde vem toda essa irritação perante a ignorância do coletivo.
As pessoas, separadas ou até em grupo, são inteligentes, dialogam, sedem. No entanto em meio a grande massa, elas se tornam burras, medrosas e ignorantes.
Não venho aqui, dizer que me excluo completamente disso. Sou pessoa, sou humano e tenho meus erros e infelizmente, já fiz parte disso algumas vezes e vou fazer muitas outras.
Mas me intriga como ultimamente tenho ficado triste com toda essa massa.
A massa parece não tomar atitude de nada, parece não se importar com nada, senão eles mesmo.
Penso se, por ventura, esse sentimento triste, como todos os sentimentos, não vem pelo meu constante contato com a verdade das coisas.

Acho que todo mundo tem um livro que o acompanha desde muitos anos. No meu caso o livro em questão é “Poemas Compostos de Alberto Caeiro”.
Sempre tive uma atração por seus versos. Os versos me faziam pensar e me acalmavam. Mostravam que o mundo ainda esta ali, aqui, a todo o momento. O mundo não muda, é apenas mundo e isso é maravilhoso, mesmo não sendo maravilhoso, pois maravilhoso é apenas um adjetivo inventado pelo homem. O homem por sua vez, em sua imperfeição, procura no mundo aquilo que ele não é. E poucos são aqueles que percebem a realidade das coisas.
E de uma certa forma eu sempre me identifiquei com esse tipo de coisa. Mas não pense você, que estou aqui para falar sobre a pobreza, a injustiça ou qualquer coisa desse tipo, criada pelo homem e para o homem. Falo de coisas naturais, que são e não pensam. Coisas que não precisam do homem.
Sempre gostei disso. Você se liberta das sensações, dos desejos, se liberta do seu homem criado pelo homem. Volta a ser um natural, como qualquer outro.
Tive muitas experiências assim. A última, em especial, me colocou novamente nos meus eixos. Fui apresentado a um lugar por uma pessoa legal, que por escolha dela, infelizmente, preferiu viver em base as suas vontades, desejos, necessidades. Isso não vem ao caso, mas talvez complemente alguma futura frase daqui.
Bem... Fui apresentado a um retiro espiritual diferente de tudo que já conhecia. E ali, no meio daquelas montanhas, sentado naquela pedra, daquele bendito rio, voltei a fazer parte do planeta.
Já vi em algumas ficções, histórias, games, matérias, algo sobre a energia do planeta. Que na verdade estamos ligados diretamente com o planeta através de energia e quando morremos, voltamos a nossa “mãe” terra para mais tarde voltarmos de outra forma/corpo/etc. Claro que se você é religioso a sua alma, se essa existir de fato, vai para um lugar aonde sua religião permite, promete, indica. Hahaha.
O que pouco ouvi falar é que podemos sentir esse fluir de energia quando entramos em contato direto com o que chamamos de natureza. E foi ali, como dito, me senti parte de tudo isso de novo.
Naquele momento não pensei nada, pois não tinha algo a pensar e a pessoa me perguntava se estava bem, se eu queria falar alguma coisa, visto que não conseguia tirar o sorriso da cara. Não lembro se foram essas as palavras, era algo assim. Lembro de ter tentado explicar, mas o que sentiu não é e nunca será o mesmo que eu senti. Não foi melhor, nem pior, foi diferente. Sou uma pessoa que quando se encontra, se acalma, não busco ser como muitos que nunca se satisfazem e vivem sempre correndo atrás de coisas e mais coisas. Sou assim. Mas não pense você que isso se liga ao marasmo, acomodação ou simplesmente estática. Não, não.
Quando me desliguei do momento e esquentei meus pés na grama ensolarada, pude me ver em toda minha plenitude e perceber que muitos dos meus medos de ser humano, não deveriam ser medos, pois não há o que temer. Colocando isso na grande massa, podemos pegar, como exemplo, aquele medo que as pessoas tem de perder tudo. Isso, já não me incomodava mais.
Tem um vídeo na internet, de um cara que fala isso. Fala das classes sociais e tal, mas fala que escolheu viver sem ter “nada”. Não escolheu ser mais humano, pois não há como ser humano completo que simplesmente é, como o rio é rio e a pedra é pedra. E com uma certa similaridade a esse rapaz, digo que conheci pessoas nesse lugar, que procuram viver assim. Livres de suas vontades físicas, dos desejos. Ouvi dizer que as pessoas são escravas delas mesmas. Dessas suas vontades, desejos e sentimentos. E elas sofrem... E se frustram... E sofrem mais ainda.

“No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...

Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos...

Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma coisa a menos,
E deve haver muita coisa
Para termos muito que ver e ouvir...”

Poderia modificar a terceira estrofe. Mas é até a segunda que esta o interesse desse meu texto. Caeiro ainda diz em outro poema:

“Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu – Não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros.”

É difícil para não tomar essa estrofe como uma opinião extremamente egoísta não é mesmo? Talvez as minhas palavras e a minha experiência não sejam claras o suficiente, para fazer entender, que de egoísmo essa frase não tem nada.

“O que nós vemos das cousas são as cousas.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.

Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma seqüestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.”

E foi naquele momento que também me entristeci. Quando voltei para o mundo dos homens e vi o quanto sofrem e o quanto eu mesmo sofro por ser também um homem criado pelo homem.
Mas me bastou uma hora, uns poemas e mais alguns minutos de contemplação, para perceber que não preciso de nada disso que os homens tanto precisam.
É extremamente difícil se desprender disso, você sofre e se sente sozinho. Nota no final de tudo, que até mesmo a pessoa mais querida só te traria solidão.
Claro que alguns vão dizer que isso é vadiagem. Bem... Meu caro amigo ignorante, se chegou até aqui aproveite para pensar um pouco. Caso a baboseira seja monumental, peço para que por favor, apague isso do seu histórico e vá comentar no twitter o texto bosta que acabou de ler.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A mosca a me assombrar

Era um dia de semana qualquer. Uma noite qualquer. Estava conversando com meu pai, enquanto seguia para o meu quarto. Queria tomar um banho e dormir como pedra. Joguei minhas coisas, tirei a roupa e fui pro banho. Tomo meu banho e vou me enxugar. Eis que ouço um “Bzzz” e não era uma vuvuzela, nem curto circuito. Era uma mosca. E é ai que começa a piada.

Primeiramente vou começar, nomeando a mosca de...... De...... Problema.

Óbvio que moscas são moscas e problemas são problemas. Os problemas não voam, mas assim como a mosca, ele pode ir embora. Evidentemente você também possui a escolha de acabar com o problema a mosca dando lhe uma chinelada. Matando a mosca de vez. Se preferir meios mais pacíficos, basta abrir uma janela e forçar a sua saída, coisa que infelizmente não da pra fazer com um problema.
Muito bem... Lá estava meu futuro encosto. Voou para o teto perto chuveiro. Eu não sabia a quanto tempo estava lá, nem sabia se tinha aparecido agora. Mas o problema a mosca tava lá, quietinha. Ela se mexeu um pouco mas ficou na dela. Eu particularmente não gosto de moscas. Não que seja algo de grande relevância ou que me cause frescurite. Eu não gosto. No entanto vivo bem com elas passando por aqui e acolá. Contudo informo que esta não era apenas uma mosca. Era varejeira. E as varejeiras são grandes, estranhas, pesadas e botam ovos na sua pele que te fodem. Além de tudo são barulhentas. E porra! Barulhenta pra caralho!
Eu resolvi ignorar e ir dormir. Mas de nada adiantou pois acordo no meio de noite, sabe se lá porque, e ouço a mosca batendo em todo o banheiro. E como o silêncio da madrugada transforma um estalo da casa em passos, não demorou muito para que ficasse irritado. Eu fico meio puto quando acordo no meio da noite sem sono. Pois bem, o bixo maldito fazia Bzzzzz, Pav, Bzzzzzzzzzzz, Pac, Bzz, Pac, Pac. Segundos depois “BzzzzzzzPacBzzzPac”. Assumi que uma maldição me atingia e tentei voltar a dormir. Consegui. Ótimo!
Bom dia sol, bom dia neblina (?), bomdia bairro, bom dia pança, hora do abdominal matinal. Vou tomar banho. “BZZZZZZZZ – PAC”.

................Oi mosca..............

*Silêncio*

Lembrei que esses seres não tem muito tempo de vida. Acho até que vi em algum lugar por ai, que elas vivem uma média de 24 horas. Mas cacete! Quanto tempo você ainda tem de vida? Ignorei depois da minha tentativa frustrada de tirar a vida da criatura. A maldita ficava "correndo" pelo teto. Tudo bem, jogo uma água em cima dela e ai ela cai e posso por um fim nesse besteirol todo. Entretanto a água não acertou o alvo mas sim bateu no teto e voltou na minha cara. A mosca pousou noutra parte qualquer do teto. Devia rir que nem besta da minha cara. Acabei ganhando uma goteira gelada durante o banho. Me arrumei, fechei a porta do banheiro, abri a janela e fui trabalhar.
Mais um dia e mais uma vez quero dormir tranqüilo. Vou direto pro chuveiro e abro a porta eeeeeeee a maldita esta lá. No teto. Sem pestanejar peguei meu chinelo subi na privada e bati com força. Pláá! Fez eco. Tiro o chinelo e vejo o que ela ficou quase intacta. Esmagada e com uma sujeira aqui e ali, mas “intacta”. Olhei o chinelo limpo, tomei banho. E de minuto em minuto meu olho automaticamente virava pra um ponto preto no teto branco. Fui dormir.
E assim se seguiu por uns dois dias. Eu ia ao banheiro e sempre tinha as atenções voltadas pro teto. Poha. Eu bati no problema e ele ainda estava ali. Ela me olhava, mesmo morta, ainda me monitorava. Queria minha alma. Tenho certeza. Fui dormir e dormi bem. No outro dia acordei e o bixo me olhando. Finalmente, tomando a coragem dos deuses, peguei um papel e fui limpar. Passei o papel e estava seca. Seca como.... A seca. Fixou-se no teto como cimento. Praticamente um adorno. “Sai bixo maldito!” Limpei com força e raspei com o papel. Ai saiu... Olhei o papel... Joguei no lixo e fiquei bem.

Olhei pro teto e ainda tinha a mancha das tripas.

“Ahhhh meu!”

Fui dormir.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Devaneios Noturnos III

Era uma noite de quinta-feira. Uma amiga veio de outro estado passar uns dias aqui. Juntamos um pessoal e nos reunimos no restaurante do Português. O Português é o pai de outra amiga, muito querido por todos nós. Praticamente um ícone. Talvez ele nem saiba disso. O restaurante não é dele, mas ele É o Português, então o restaurante É dele.

Enfim... Muitas risadas efusivas, pizzas e cerveja. Alguns dizem que não combina, eu digo que alguns momentos, quando mais especiais, não possuem defeitos.

Cansado, pego o metrô de volta pra casa. Fico irritado com tanto barulho atrapalhando minha audição do mp3. Desligo. Fecho os olhos. O metrô balança, para, anda, balança, grita, para. Fico entorpecido pela dissonância e durmo.

Alguém me acorda, é a estação final.

Corro na tentativa de me manter acordado e pegar o que julgava ser o último trólebus*.

Ligo o mp3. Tento observar a cidade para me distrair e não dormir novamente. Apesar da posição incômoda, cedi.

Dormi e acordei várias vezes. Quando por fim me dei conta de que estava próximo do meu ponto, dei um pulo do banco. Quase perdi o equilíbrio. Estava difícil ficar em pé e mais ainda de manter os olhos abertos.

Desci do veículo e olhei para os lados. Fui surpreendido por uma intensa neblina que não possibilitava ver o fim da rua à esquerda ou a curva à direita. As luzes pareciam mais fortes e o ar pesado. Apesar da névoa, não estava frio. Vou atravessar a rua e tomo um susto com um carro em alta velocidade. Chego do outro lado, no ponto de ônibus e pergunto a umas pessoas se “já passou a linha tal”. Ainda tem um último, penso. Sento e encosto o corpo podre de cansaço.

Olho ao meu redor e percebo um clima estranho nessa noite. Como se estivesse numa cidade dentro de alguma caverna. Não venta. A neblina continua ali, estática. É quase impossível ver os prédios e o céu. Um grande borrão.

Finalizam-se as guitarras arrastadas e pesadas nos meus ouvidos. Procuro por alguma coisa que combine com isso. Encontro e entro em transe. Essa intro sempre faz isso comigo. Um abrir de portas.

O farol abre e fico cego com as luzes dos carros. Vejo um ônibus, mas não consigo ler. Tento enxergar em vão. Uma silhueta que parecia ser feminina, tampa a minha visão. A figura invade as luzes do poste e vejo que é um travesti, com cara triste. Pareceu estar numa noite ruim. Ele senta e acende um cigarro. Começa a tossir.

O ônibus passa vazio.

Um senhor passa e fica olhando para o travesti com um riso bobo na cara. Riso de piadinha. Reafirmo a certeza de que essa é uma cidade interiorana. Aqui o mundo parou em 1980.

Viro minha atenção para as pessoas que perguntei sobre o ônibus. Um cara da minha idade e duas mulheres, não velhas, mas com mais idade. Estão falando sobre a bíblia, Xerxes, Constantine.
Me intrigaram, aqueles evangélicos. Questionando a criação da bíblia e toda a politicagem da religião. Uma das mulheres percebe que estou olhando. Continuo, ela não. Gravo um pequeno filme na mente.

Fecho os olhos, encosto a cabeça um pouco e penso que deveria pagar um taxi. Posso ter errado e estar esperando por um ônibus que já foi.

O que estou falando? Não tenho um puto no bolso... Mas também não posso dormir agora.

Me forço a ficar acordado. Abro os olhos e vejo do outro lado, onde desci do trólebus, dois homens. Um deles sentado no banco, quase dormindo, como eu. O outro, fazendo exercícios de aquecimento, em pé. Devia estar com frio. Pareceu que ia iniciar uma corrida.
Dez minutos e até agora só passou uns dois ou três carros, uma moto e um ônibus. E não era o meu.

O travesti continua tossindo.

Um Astra branco para na frente do ponto e buzina rápido. A “garota” da noite levanta em dúvida e vai conferir, afinal, não tem nada a perder. O cara do carro se assusta e a dispensa. Um japonês pula rápido e com agilidade por cima dos bancos do ponto de ônibus. Vai conversar com o cara do carro. O do Astra passa um envelope grande e branco pro japonês. Reconheço que o japonês é taxista. Deve ser alguma coisa de trabalho.

Todos reparam na cena. Eu, o travesti, os evangélicos duvidosos, um cachorro que esta sempre jogado por aqui e um pipoqueiro. Sim, havia um. Como poderia me esquecer daquele senhorzinho que parecia um Oompa-Loompa (do Burtom)?
Não é para menos. O mundo parecia se mover em slow-motion. Os sons abafados. As pessoas cansadas.

Passa outro carro e um ônibus apagado.

Aquela espera parecia não ter fim. Não mexi um dedo. Fico olhando os prédios na neblina. Algumas luzes ainda se acendem.

Meia noite e trinta e cinco. Uma luz laranja vem consumindo a pista. É meu ônibus. Subo nele. Só tem duas pessoas. Um cara encapuzado, que me pareceu drogadão e uma menina bonitinha que lia um jornal. Sentei e fiquei vendo a cidade passar em meio à fumaça. Estranho só ter reparado naquela hora o quão sombria estava a cidade. Noto meu reflexo no espelho. Estou a bocejar e com os olhos fundos.

Cama. Minha cama, penso.

Desço no meu ponto. Tomo um pouco de ar e olho para atravessar a rua. Não era nem preciso. Não tinha nada, nem ninguém, só uns caminhões enfileirados pela rua. Todos quietos.
Um silêncio ensurdecedor. Podia sentar no meio da estrada. Podia dormir no meio da estrada.
Até que não seria uma má idéia.
Chego em casa e encontro meu pai ainda acordado.

“Ooopa! Chegou!”

“Tava me esperando?”

“Não. Tava vendo filme.”

“Vou fazer um chá.”

“Ta ruim?”

“Comi muito.”

“Aham... E vai ligar o computador? Não vai dormir?”

“Tenho algo pra escrever”.

Ao Som de: Madrugada – Industrial Silence.

*: Os trólebus são ônibus elétricos que possuem uma faixa própria. Considero uma extensão do metrô, que infelizmente, não funciona como baldeação. Somos obrigados a pagar duas conduções.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Experimente

Hoje percebi que as coisas mudam de sabor com o passar do tempo. Aquele chocolate que você comeu ontem, pode não ter o mesmo sabor amanha. E não é a industrialização.


Pense nisso.


Tudo muda de sabor. Aquela música que você sempre odiou e torcia o nariz como se tivesse um limão na boca, pode muito bem ter um gosto de abacaxi com muito açúcar. Percebe que não se perde a acidez?


Ir para a praia no começo pode ter um gosto óbvio, salgado, mas com o tempo passa a ter um gosto de peixe. Pode ser salmão, atum ou bacalhau. Enxaguado com muita água de coco.

Uma vez ouvi que o Outono tem gosto de madeira, ou beterraba, não lembro. Pra mim não tem gosto de nada. Ainda. E pra você? Tem?


Levando a um outro patamar. As minhas vitórias e derrotas. Também possuem sabor. Um sabor que muda periodicamente. Um sabor, que hoje chega a ser puro e entorpecente, independente de serem opostos. Por vezes, claro, contrasta com sabores estranhos, meio agridoces, salgado ou simplesmente doces demais.


São tantas as coisas não óbvias que possuem gosto. O amor, por exemplo, dizem que é doce. Eu não sei, nunca provei, mas entendo o porquê disso.

A saudade sempre teve um gosto bom, só nunca consegui definir. Ela é inconstante e me abala fácil, dificulta o degustar.


O dormir é quase como um copo de água com açúcar. Já o levantar depende. Apesar do gosto amargo da boca, é possível piorá-lo, quando se lembra daqueles compromissos azedos logo que se abrem os olhos.

Mas bom mesmo são os programas com entrada, prato principal e sobremesa. Preparado por grandes chefes.


Um carinho, no caso, um beijo. Também não é diferente. Aquele beijo que antes parecia apimentado e selvagem, hoje, (in)felizmente, se tornou algo doce e quente, mas não a um nível selvagem. Uma pergunta, uma conversa, uma intimidade, uma desavença, segundos, mudam tudo. Muda o gosto. Muda a forma como ele se processa na cabeça. Não é a mesma coisa e nunca mais vai ser igual. Isso é bom? É ruim? Só você para ter ciência dos benefícios e malefícios dessa evolução/mutação.


Não volta, não tem jeito.


Você pode sentir muita falta do sabor daquele guarda-chuvinha de chocolate que não tem mais por ai. Da comida da sua mãe. Daquele salgado que você comeu num café em Buenos Aires. Mas a lembrança vem como uma brisa e brisa é foda. Vem devagar, suave, porém é TÃO boa que acaba te deixando com expectativas e saudade.

Chega a decepcionar quando você, por ironia do destino, encontra o chocolate num mercadinho qualquer, quando você visita a sua mãe ou quando você sai de férias em Buenos Aires. Decepciona porque já não é igual. A lembrança muda, você muda, o mundo muda. Sua vida muda... De sabor.


Uma mesma mistura de alimentos ingeridos por um tempo. Alguns são bem comuns, outros mais escondidos no fundo do armário e aqueles que você nem imaginava que estavam ali. As pequenas surpresas.

Passa-se um tempo e se tira uma foto mental do armário. Já é outro, tudo mudou. Mudam-se os rótulos, mudam-se as posições e em alguns casos, a substituições, por alimentos de baixa caloria, por exemplo. Nisso, aquele arroz novo, quando misturado com o feijão antigo, vai criar uma nova experiência que não só da vida a um novo sabor, como modifica o gosto do feijão pra sempre. Deixa o sabor antigo, apenas na memória.


E este é meu dilema. A água que bebo agora, tem gosto. Um gosto estranho, diferente. Quase não sinto vontade de beber, mas tenho muita sede de água. Seria a minha cabeça criando um sabor? Seria o meu dia difícil? Ou o copo esta, apenas, mal lavado. Não importa. O gosto esta aqui, não me agrada. E isso basta pra me fazer pensar.


E hoje, a essa hora, justamente nessa hora, eu não queria sentir esse sabor. Não queria.


Ao Som de: Anathema - A Natural Disaster

segunda-feira, 8 de março de 2010

Devaneios Noturnos II

Uma pequena taça de vinho na minha mão. Mais um anoitecer depois de um dia denso e preocupante. Sofri para chegar em casa. Dessa vez a noite não me pegou, muito pelo contrário, me irritou. Fumaça, barulho e caos dominaram as ruas. Pequenos placebos para melhorar essa situação e algumas horas depois estou em casa.

Estou cansado e tomo um copo de água. Não é o que quero. Recebo uma mensagem no celular para uma conversa via internet. Mantemos uma boa conversa. Uma pessoa bacana que me leva a momentos nostálgicos de anos atrás. Não por ela, porque mal a conheço, mas pelos lugares que freqüentamos e nunca nos encontramos. Alguns ambientes aconchegantes que pretendo, agora, voltar em breve e tomar um drink.
Não converso por muito tempo. A companhia não era exatamente o que estava procurando. Não é a companhia que quero agora. Talvez seja errado, talvez seja pretensão minha sair falando assim da pessoa como se fosse um objeto para o meu agrado. Pouco me importo, pois agora me sinto no direito de aceitar o que me convém.
Corto a conversa morna e sigo para um momento de prazer. Um banho bem quente, pouca luz e um som bacana, suave, mas poderoso. Aquele tipo de som que não combina com a luz do dia e toma conta de você. Não permite interações mundanas, acomete a sensações entorpecentes.

Esta escuro e por momento fico fora da minha cabeça. Penso em bons momentos, viagens, garotas, uma musa, pra ser só minha, me esperando em algum lugar desconhecido. Alguém para abraçar e sentir o seu cheiro doce de mulher. Aquela que faz de você o homem mais poderoso só por ter seu amor, sua atenção.

“Um banho limpa a mente e a alma.”

De fato limpa. Me sinto novo. Deixo as más energias escorrerem pelo ralo. Ainda sinto algum peso nas costas. Tento me livrar deles. São mais fortes do que a mente agora. Por sorte, a potência do vapor é tamanha que me ajuda a esquecer por minutos. Vou ficando ali sufocado pelo vapor e deixando a água cair pela cabeça. A água me deixa surdo e mal ouço a música. Sinto ela cair e passar pelo corpo. Lembro da minha musa e a sinto me abraçar. Nesse momento então sou abraçado pela filha de Poseidon, enviada para satisfazer todos os meus desejos, mas que requer um relacionamento submerso.

Continuo estático sem me mover. Me deixo afogar.

Não pretendia sair desse universo. Sigo, de uma certa forma, entorpecido até a cozinha. Pego algo para comer e logo em seguida encho uma taça de um bom vinho. Não é meu, mas esta aberto, então foda-se.

Uma única taça, essa taça. Me trouxe de volta a meu eu. Já sentiu beber ou comer algo que pareceu suprir os seus desejos momentâneos?

É bom, julgo ser melhor do que muita coisa por ai.

Esquisito... Estranho... Strange...........R

Sinto vontade de acender um cigarro, deixar a música tocando bem alta e olhar a imensidão azul deitado no chão. Poderia ficar ali por horas, como já o fiz. Vendo o mundo girar, o surgir das estrelas e o inebriante momento mágico do entardecer. Tentar acompanhar as mudanças de cores e como o azul escuro vai devorando o laranja, vermelho e se torna roxo até o puro breu.
O mundo todo muda e você continua ali, como se fosse o único a presenciar tamanha beleza. Alguns minutos passam e houve-se um chiar. Vai ficando mais alto, mais alto e quando percebo que esta muito próximo escolho ficar ali e receber a tremenda chuva que esta por vir.

Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Fico ensopado em segundos e começo a sentir muito frio. Dou risada feito idiota enquanto assisto ela cair.

Um flash e estou de volta para minha música e meus domínios. A chuva volta para a caixinha de lembranças.
Sigo um caminhar torto. Me sinto estranho. Não são drogas, nem placebos e nem o álcool. Acho que é isso que chamam de "Eu Lírico".

Penso em escrever, acho que posso escrever. Acho que devo escrever.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Indo para casa.

Uma capa preta, uma figura sem rosto e uma palavra, “Home”. Assim somos apresentados a um dos melhores CDs do The Gathering.

Há muito tempo venho ouvindo esse CD com afinco, deleite e carinho. 2006 para ser mais exato.

Este sempre me trouxe muitos momentos de lucidez, pureza, reflexão e felicidade. Mas somente ontem, enquanto deitei pra dormir, fui capaz de sentir o quanto ele me fazia recordar de boas coisas, sobretudo a minha infância. E foi assim, que minha noite acabou ficando mais longa do que deveria ser.

Veio como uma brisa boa.

Lembrei de fotos, de brincadeiras, sentimentos e todo aquele modo de encarar o mundo como fazia quando criança.

Senti saudades...

O sentimento é parecido com aquele que tenho quando ouço alguma das minhas bandas favoritas de post-rock. Talvez pelas muitas influências deles nesse estilo ou pelo jeito de tocar aquele “atmospheric rock” que só o “Gathering” sabe fazer. Independente disso vou tentar descrever o quanto o clima é elevado a décima potência e ainda consigo me manter estável.

Primeiramente me sinto acolhido no sopro que já foi uma vez a voz da Anneke e adentro num outro universo, mágico, criado por toda a banda.

Imagine-se em meio a uma catástrofe, com todas as esperanças perdidas e o amor esquecido, alguém chega sem compromisso e te abraça. Um abraço morno, ameno, suave, que te faz fechar os olhos e querer dormir ali para sempre. Faz você se sentir quando era criança e alguém que você gostava muito te fazia parar de chorar. Depois ambos caiam na risada.

Lembro agora da minha irmã. Já faz tanto tempo...

Éramos sempre muito ligados, mesmo quando nada acontecia.

Ela me apresentava o mundo e todas as coisas boas que pai e mãe nunca iriam me apresentar. Jogava o mundo na maneira real que ele é. Me fazia pensar sobre isso, sobre as coisas. Me dava força. Me ajudava a compreender quando necessário.

É chato lembrar que nunca me despedi e que estávamos brigados por aqueles dias. Chega amargar meu coração até sentir o gosto saindo pela boca. Independente do que já me foi dito, isso nunca foi embora.

Lembro o quanto já aconteceu conosco.

Eu, pentelho adorava encher ela e ela por sua vez curtia tudo três vezes mais. E corria atrás de mim como se fosse um monstrão que iria me devorar. Hahaha. Tudo era doce, calmo, cheio de luz, mesmo nos momentos mais densos. Abraços como o citado. Sem contar os beijos que eu odiaaaaava. Hahahaha.


Travei agora....... Saudade...........................


Lembranças importantes.

Elas nos ajudam a lembrar quem nós somos.

Não podemos esquecer que ainda somos crianças independente da idade, da rotina insana e caótica do horário comercial, dos estudos, família e ‘n’ obrigações diárias. Acabamos nos afastando de nosso verdadeiro eu. Com o tempo esquecemos e perdemos nossa própria essência.

Pense comigo, naquele momento feliz que você teve quando criança. Todos os seus amigos e amigas, as brigas, as brincadeiras, os amores engraçadinhos, toda a criatividade que tínhamos para nós e para o mundo.

E hoje? Há algo disso com você? Algo que possa pelo menos substituir de forma perfeita?

Mas não pense você que faço uma crítica. Isso não é uma afirmação de que nada de hoje presta, de que somos merda. Entende?

Se você entende isso e vê da forma que vejo, sabe que descobriu um dos segredos da vida sem nunca ter notado. Isso também é viver. Não tem nada tão bom quanto vivenciar essas lembranças novamente. Objetos e abstratos. Cores e amores. Ah... Deve ter coisas melhores, mas agora não quero nem saber delas.

Disseco os momentos detalhe por detalhe. E fico sorrindo como me lembro de cada detalhe “bobo”. Não há espaço para reclamações. Não tem como dizer que a vida antes era mole e que não tinha contas pra pagar. É Até ridículo estar agora ali, dentro de você mesmo e não “ir com a corrente”, mas deixar-se afetar pelo externo.

Interessante o que uma música pode fazer conosco. Um som melancólico, que não de uma forma triste, me leva ao passado e posso claramente ver tudo neste exato momento. Materializa-se num estalo. Pulo pra outro momento com a agilidade e facilidade que um esquilo faria.

Uma música amável, com um andamento sensível e com o poder da paz.

Como um copo de água no deserto, uma lembrança perdida e agora reencontrada, um sentimento bom, um carinho na cabeça, um sopro de alguém no seu machucado após passar remédio, uma brincadeira cheia de gritos, um abraço, um sorriso, um lugar especial.

Home... É como voltar pra casa, mas a sua casa interior. Aquele lugar que ninguém pode ir senão você.

Meu coração aperta. Respiro fundo e fecho os olhos. Fico de lado e me encolho na cama. Durmo como bebê.



P.s. Obrigado Vitor. Entendo perfeitamente o que disse sobre a infância.

Dedicado a Elisabeth Fagundes Marinho.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Pedaços de Massa Encefálica

Gosto de sentir essa sensação como se todos estivessem confessando coisas.

As coisas fúteis são minhas pontes para conhecer melhor as pessoas.

Engraçado como são poucas as pessoas que acabam me interessando no final. Histórias e mais histórias que ainda não vivi e talvez nem as viva.

Morar sozinho... A cada dia que passa eu meio que conto as horas pra me sentir dono de minha vida por completo. Aventurar-me pelo mundo afora ou simplesmente curtir “in my place”.

“...viver de pijama, ter vodka barata a semana toda na geladeira, trocar o dia pela noite e não sair do bar. Mas também, trabalhar feito condenada pra ganhar merreca...”

Algumas coisas são explicadas com reticências e quem não entende, simplesmente não esta preparado para o mundo vindouro. Pequenos valores como o citado acima, que muitos dos que hoje estão na plenitude de sua maturidade nunca vão conhecer. Tentam apenas controlar os “padrões básicos da vida humana” numa cidade grande. Pode parecer redundante ou sacal frente a tanta crítica nesse sentido, mas crescer numa boa escola, praticar esporte, trabalhar, namorar, casar, ter filhos e morrer de velhice, as vezes me parece um ideal perfeito de uma vida digna, visto dos olhos dessas pessoas tristes.

“Sabe quando você tem pena de uma pessoa? Sério, eu tenho pena do cara. Que vida triste!” – Diz um camarada em meio a uma conversa. E como constatamos, essas pessoas acabam numa tentativa frustrada de se controlar e achar que tudo o que é diferente ou desconhecido pode ser prejudicial. Mas não o é. Um fumo, uma bebida. Sempre pensando o quanto isso pode se tornar algo maior e sair do controle. Pffff. Não sabem nada. Aqueles que me fortalecem são guardados no coração a sete chaves. A nossa identidade não é essa. Somos pensadores, vivenciadores, amantes da vida e das coisas boas. Sabemos dos limites e dos extremos. Temos os limites físicos e mentais, às vezes gostaríamos de não ter, claro.

Vivemos assim, melhor que você, rapaz de vida triste e visual exótico. Queremos descobrir o mundo, queremos rir sóbrios, queremos rir ébrios. Cantar e dançar a noite afora, brincando como crianças que não conhecem o mundo. Crianças que fogem de seu quarto, correm pelo jardim, pulam a cerca do pequeno sítio e entram na selva de pedra voraz.

Mas não se assuste, apenas veja por outro ângulo. Prometo que vai rir e sentir prazer logo em seguida. “Nossa que barato” é o que vai dizer.

Há milhões de universos lá fora, no ônibus, no metrô, nas ruas.

E isso me recorda daquela garota de cabeça raspada em uma única conversa que tivemos. Dizia “Já parou pra pensar que o amor da sua vida pode estar nesse vagão ou no vagão do metrô que passa no sentido contrário?”

Na hora lembro de ter concordado, achado tudo muito genial. Ligava diversas situações e ligava até mesmo a cidade numa só procura, a procura por uma pessoa interessante o suficiente para você chamá-la de amor. Suposições e suposições. Me diga que vida é feita de suposições? “Besteira!” penso agora. Uma busca sem fim com argumentos inválidos. Não se vive mais como um hippie ou um beatnik hoje em dia. Não se curtem mais as pessoas ou as noitadas de muito “pecado” como se fossem momentos únicos que não voltam nunca mais. Momentos que mereciam ser gravados, fotografados, descritos e posteriormente psicografados, para não faltar detalhe algum.

“Seu bêbado! Vagabundo! Drogado! Sem futuro! Que vergonha!!!”

Ah! Se toca cara!!!!

“Sheila! Pet this cat, please? Make him reply your name.”

Sight*

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Devaneios noturnos

Estou a dirigir após uma noite no cinema. Deixo meu camarada em casa e pego o caminho para a auto-estrada, direto pra minha cama.

Mas a noite esconde os seus feitiços.

Não há sensação melhor do que sentir o vento quente do verão batendo no rosto. Luzes de todas as cores tingindo sua pele. Pessoas que param ao seu lado no farol e você logo imagina o que elas poderiam estar fazendo. Sente-se louco para conhecer um pouco mais daquelas figuras interessantes que rodeiam as ruas e praças. Quanto mais se vão às horas, maior o silêncio e maior é a sensação. Ruas que parecem formigueiros de dia são tomadas por alguns gatos pingados sem rumo. As pessoas riem, flertam, fumam, bebem. E nada parece demais.

Dobro algumas esquinas até uma subida que da num viaduto. Paro no farol mais uma vez. Um carro cheio de garotas e um cara dirigindo fazem o mesmo a minha esquerda. Eles parecem cansados, apenas indo em frente. Meu rádio está alto o suficiente para roubar o olhar de uma delas. Abre o farol e sigo em frente. Faço um balão e pego a auto-estrada. Enquanto aumento a velocidade, percebo a lua crescendo atrás de algumas nuvens. O céu esta limpo, mas aquelas nuvens insistem e marcam presença. A lua começa a crescer e me olha com todo aquele esplendor. Não me pede nada senão senti-la. Abaixo dela, a cidade cheia de arranha-céus brilhantes. As luzes amarelas brincam com as outras. Posso sentir que estou ganhando vida. Troco a música porque sei o que me espera.

O bendito saxofone. Aquele clima me nocauteia com peso. Meu tecidos relaxam, minha mente se desliga, Meus olhos caem. Aumento o volume. Os lábios se racham num sorriso insano. Respiro fundo e sinto toda a magia me contagiando. Um pó mágico que me foi jogado e toma conta rapidamente das minhas veias. Mas é apenas ar. Me sinto vivo.

Um gosto, um cheiro, não sei, só sei que é doce. Não pertence a lugar nenhum senão a minha mente. Dou cores e odores aos momentos.

“So many ways, to get a lift. So many ways to get your head unzipped”

Canto o verso sorrindo.

Não tenho com o que me preocupar e isso é o que importa agora. A dama da noite me dominou, eu mesmo quem quis. Sou todo dela agora.

Contemplo a cidade, contemplo a lua. Poderia tirar uma foto. Uma foto em vão. Sei que não entro nesse mundo de novo.

Penso em quem poderia me acompanhar nisso. Queria poder passar isso pra ela, queria que sentisse. Se sentisse seduzida pelo momento, pelo som, como nunca sentiria por homem algum. Ela sorri, me toca e se vai. Não é ninguém.

Um placebo, uma droga, um orgasmo revigorante. Atinjo a sóbria embriaguês desse momento e deixo a inércia me levar pela estrada. Estou chegando ao fim da descida e tudo que penso é em escrever sobre tudo isso.