quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Pedaços de Massa Encefálica II

“Escrevo o que escrevo sem pensar, sem montar, apenas escrevo.”

Queria saber de onde vem toda essa irritação perante a ignorância do coletivo.
As pessoas, separadas ou até em grupo, são inteligentes, dialogam, sedem. No entanto em meio a grande massa, elas se tornam burras, medrosas e ignorantes.
Não venho aqui, dizer que me excluo completamente disso. Sou pessoa, sou humano e tenho meus erros e infelizmente, já fiz parte disso algumas vezes e vou fazer muitas outras.
Mas me intriga como ultimamente tenho ficado triste com toda essa massa.
A massa parece não tomar atitude de nada, parece não se importar com nada, senão eles mesmo.
Penso se, por ventura, esse sentimento triste, como todos os sentimentos, não vem pelo meu constante contato com a verdade das coisas.

Acho que todo mundo tem um livro que o acompanha desde muitos anos. No meu caso o livro em questão é “Poemas Compostos de Alberto Caeiro”.
Sempre tive uma atração por seus versos. Os versos me faziam pensar e me acalmavam. Mostravam que o mundo ainda esta ali, aqui, a todo o momento. O mundo não muda, é apenas mundo e isso é maravilhoso, mesmo não sendo maravilhoso, pois maravilhoso é apenas um adjetivo inventado pelo homem. O homem por sua vez, em sua imperfeição, procura no mundo aquilo que ele não é. E poucos são aqueles que percebem a realidade das coisas.
E de uma certa forma eu sempre me identifiquei com esse tipo de coisa. Mas não pense você, que estou aqui para falar sobre a pobreza, a injustiça ou qualquer coisa desse tipo, criada pelo homem e para o homem. Falo de coisas naturais, que são e não pensam. Coisas que não precisam do homem.
Sempre gostei disso. Você se liberta das sensações, dos desejos, se liberta do seu homem criado pelo homem. Volta a ser um natural, como qualquer outro.
Tive muitas experiências assim. A última, em especial, me colocou novamente nos meus eixos. Fui apresentado a um lugar por uma pessoa legal, que por escolha dela, infelizmente, preferiu viver em base as suas vontades, desejos, necessidades. Isso não vem ao caso, mas talvez complemente alguma futura frase daqui.
Bem... Fui apresentado a um retiro espiritual diferente de tudo que já conhecia. E ali, no meio daquelas montanhas, sentado naquela pedra, daquele bendito rio, voltei a fazer parte do planeta.
Já vi em algumas ficções, histórias, games, matérias, algo sobre a energia do planeta. Que na verdade estamos ligados diretamente com o planeta através de energia e quando morremos, voltamos a nossa “mãe” terra para mais tarde voltarmos de outra forma/corpo/etc. Claro que se você é religioso a sua alma, se essa existir de fato, vai para um lugar aonde sua religião permite, promete, indica. Hahaha.
O que pouco ouvi falar é que podemos sentir esse fluir de energia quando entramos em contato direto com o que chamamos de natureza. E foi ali, como dito, me senti parte de tudo isso de novo.
Naquele momento não pensei nada, pois não tinha algo a pensar e a pessoa me perguntava se estava bem, se eu queria falar alguma coisa, visto que não conseguia tirar o sorriso da cara. Não lembro se foram essas as palavras, era algo assim. Lembro de ter tentado explicar, mas o que sentiu não é e nunca será o mesmo que eu senti. Não foi melhor, nem pior, foi diferente. Sou uma pessoa que quando se encontra, se acalma, não busco ser como muitos que nunca se satisfazem e vivem sempre correndo atrás de coisas e mais coisas. Sou assim. Mas não pense você que isso se liga ao marasmo, acomodação ou simplesmente estática. Não, não.
Quando me desliguei do momento e esquentei meus pés na grama ensolarada, pude me ver em toda minha plenitude e perceber que muitos dos meus medos de ser humano, não deveriam ser medos, pois não há o que temer. Colocando isso na grande massa, podemos pegar, como exemplo, aquele medo que as pessoas tem de perder tudo. Isso, já não me incomodava mais.
Tem um vídeo na internet, de um cara que fala isso. Fala das classes sociais e tal, mas fala que escolheu viver sem ter “nada”. Não escolheu ser mais humano, pois não há como ser humano completo que simplesmente é, como o rio é rio e a pedra é pedra. E com uma certa similaridade a esse rapaz, digo que conheci pessoas nesse lugar, que procuram viver assim. Livres de suas vontades físicas, dos desejos. Ouvi dizer que as pessoas são escravas delas mesmas. Dessas suas vontades, desejos e sentimentos. E elas sofrem... E se frustram... E sofrem mais ainda.

“No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...

Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos...

Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma coisa a menos,
E deve haver muita coisa
Para termos muito que ver e ouvir...”

Poderia modificar a terceira estrofe. Mas é até a segunda que esta o interesse desse meu texto. Caeiro ainda diz em outro poema:

“Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu – Não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros.”

É difícil para não tomar essa estrofe como uma opinião extremamente egoísta não é mesmo? Talvez as minhas palavras e a minha experiência não sejam claras o suficiente, para fazer entender, que de egoísmo essa frase não tem nada.

“O que nós vemos das cousas são as cousas.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.

Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma seqüestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.”

E foi naquele momento que também me entristeci. Quando voltei para o mundo dos homens e vi o quanto sofrem e o quanto eu mesmo sofro por ser também um homem criado pelo homem.
Mas me bastou uma hora, uns poemas e mais alguns minutos de contemplação, para perceber que não preciso de nada disso que os homens tanto precisam.
É extremamente difícil se desprender disso, você sofre e se sente sozinho. Nota no final de tudo, que até mesmo a pessoa mais querida só te traria solidão.
Claro que alguns vão dizer que isso é vadiagem. Bem... Meu caro amigo ignorante, se chegou até aqui aproveite para pensar um pouco. Caso a baboseira seja monumental, peço para que por favor, apague isso do seu histórico e vá comentar no twitter o texto bosta que acabou de ler.

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