sexta-feira, 18 de março de 2011

O mensageiro que vem do nada na hora que se toma fôlego em meio a uma tormenta de Março

Ele apareceu, com suas pernas laranjas e corpo verde.

Não queria nada.


Só passar.


Achei bonito, e estiquei seu trajeto. Não reclamou e não mostrou dificuldades. Continuou seguindo, esquivando e andando, com agilidade. Queria chegar num lugar que só ele sabia. E não parou, nem mesmo um segundo.

Eu o atrapalhei e nem por isso deixou de seguir. Contornou as linhas, as curvas, os terrenos sinuosos e nem mesmo a gravidade o derrotou.

Não tava nem ai o safado! Fazia tudo tão fácil quanto um estalar de dedos.

Continuou. Com passos rápidos, curtos e seccionados.

Deixei que fosse embora, surpreso com sua maestria.


Sumiu.


Segundos depois, aparece de novo.


“Ei cara! Ta tudo numa boa, não fiquei zangado. Eu só preciso continuar, entende?”


“Ah! Ok! - Eu disse”


Então o coloquei no chão e abri caminho. Subiu um degrau como se não houvesse mais nada no mundo além dele. Subiu mais ainda.

E lá se foi, para além da minha visão, com suas pernas laranjas, curtas e seu corpo verde.

A cabeça fria e o pé quente.

Caminhou para o seu destino, sem saber, que suas habilidades lhe reservavam algo muito além dos seus objetivos de inseto.


Com "Oppressed People" de Nobuo Uematsu na cuca

quinta-feira, 3 de março de 2011

Exercitando a cura

A chuva em todo seu ímpeto fomenta os meus sonhos prematuros.

Contemplo – a como contemplo o infinito.

A natureza se rejuvenesce num banho colossal.

Todo o medo mundano se esvai, deixando um espaço aqui dentro. O pequeno espaço cresce a um tamanho significante, engrandece, vira prazer. Junto aos prazeres dessa noite, que até agora estava quente demais.

Assim como o meu mundo que acostumou a acalentar os ambientes tenros e pesados.

Mas vem o banho e o banho lava a mente e a alma.

La fora, em meio às luzes amarelas, a cidade descansa. A pobrezinha nem se faz notar que se cura, fica mais pura.

Todos dormem. Ninguém vê nada, porque o que há deles verem, senão gotas caindo do céu?

Volto aos meus sonhos. Ouço a singularidade musical das gotas que tanto limpam.

Permaneço nessa janela recebendo a brisa celeste. Recompensa pelo dia difícil.

Desejo mais uma vez compartilhar “isso” com uma mão delicada e um par de olhos profundos.

Encosto a cabeça na janela, cansado e melancólico.

Saboreio a saudade

As árvores dançam e a chuva continua.

Só continua...