segunda-feira, 8 de março de 2010

Devaneios Noturnos II

Uma pequena taça de vinho na minha mão. Mais um anoitecer depois de um dia denso e preocupante. Sofri para chegar em casa. Dessa vez a noite não me pegou, muito pelo contrário, me irritou. Fumaça, barulho e caos dominaram as ruas. Pequenos placebos para melhorar essa situação e algumas horas depois estou em casa.

Estou cansado e tomo um copo de água. Não é o que quero. Recebo uma mensagem no celular para uma conversa via internet. Mantemos uma boa conversa. Uma pessoa bacana que me leva a momentos nostálgicos de anos atrás. Não por ela, porque mal a conheço, mas pelos lugares que freqüentamos e nunca nos encontramos. Alguns ambientes aconchegantes que pretendo, agora, voltar em breve e tomar um drink.
Não converso por muito tempo. A companhia não era exatamente o que estava procurando. Não é a companhia que quero agora. Talvez seja errado, talvez seja pretensão minha sair falando assim da pessoa como se fosse um objeto para o meu agrado. Pouco me importo, pois agora me sinto no direito de aceitar o que me convém.
Corto a conversa morna e sigo para um momento de prazer. Um banho bem quente, pouca luz e um som bacana, suave, mas poderoso. Aquele tipo de som que não combina com a luz do dia e toma conta de você. Não permite interações mundanas, acomete a sensações entorpecentes.

Esta escuro e por momento fico fora da minha cabeça. Penso em bons momentos, viagens, garotas, uma musa, pra ser só minha, me esperando em algum lugar desconhecido. Alguém para abraçar e sentir o seu cheiro doce de mulher. Aquela que faz de você o homem mais poderoso só por ter seu amor, sua atenção.

“Um banho limpa a mente e a alma.”

De fato limpa. Me sinto novo. Deixo as más energias escorrerem pelo ralo. Ainda sinto algum peso nas costas. Tento me livrar deles. São mais fortes do que a mente agora. Por sorte, a potência do vapor é tamanha que me ajuda a esquecer por minutos. Vou ficando ali sufocado pelo vapor e deixando a água cair pela cabeça. A água me deixa surdo e mal ouço a música. Sinto ela cair e passar pelo corpo. Lembro da minha musa e a sinto me abraçar. Nesse momento então sou abraçado pela filha de Poseidon, enviada para satisfazer todos os meus desejos, mas que requer um relacionamento submerso.

Continuo estático sem me mover. Me deixo afogar.

Não pretendia sair desse universo. Sigo, de uma certa forma, entorpecido até a cozinha. Pego algo para comer e logo em seguida encho uma taça de um bom vinho. Não é meu, mas esta aberto, então foda-se.

Uma única taça, essa taça. Me trouxe de volta a meu eu. Já sentiu beber ou comer algo que pareceu suprir os seus desejos momentâneos?

É bom, julgo ser melhor do que muita coisa por ai.

Esquisito... Estranho... Strange...........R

Sinto vontade de acender um cigarro, deixar a música tocando bem alta e olhar a imensidão azul deitado no chão. Poderia ficar ali por horas, como já o fiz. Vendo o mundo girar, o surgir das estrelas e o inebriante momento mágico do entardecer. Tentar acompanhar as mudanças de cores e como o azul escuro vai devorando o laranja, vermelho e se torna roxo até o puro breu.
O mundo todo muda e você continua ali, como se fosse o único a presenciar tamanha beleza. Alguns minutos passam e houve-se um chiar. Vai ficando mais alto, mais alto e quando percebo que esta muito próximo escolho ficar ali e receber a tremenda chuva que esta por vir.

Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Fico ensopado em segundos e começo a sentir muito frio. Dou risada feito idiota enquanto assisto ela cair.

Um flash e estou de volta para minha música e meus domínios. A chuva volta para a caixinha de lembranças.
Sigo um caminhar torto. Me sinto estranho. Não são drogas, nem placebos e nem o álcool. Acho que é isso que chamam de "Eu Lírico".

Penso em escrever, acho que posso escrever. Acho que devo escrever.