sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Submerso no sopro da deusa

Foto: Marlon Marinho

Era mais uma noite solitária. Me sentia vazio e sem grandes expectativas.
Resolvi pegar o carro e dar uma volta por ai. Coloquei um som bacana e boêmio, como sempre, claro. Sigo sem destino até sentir o cheiro de algo quente. Sigo sem pensar muito, apenas me deixo levar pelo som. Vou me degustando aos poucos com as pinturas noturnas e todas as figuras interessantes que brotam das sombras. Figuras em neon verde, vermelho, azul... Lilas. Putas, todas putas. Cheias de amor, muita bebida na cabeça e mais o que os vícios podem suportar. Paro no farol e mexo com uma delas para me divertir, diz que é material de primeira linha. Que seria o primeiro a aproveitar dos novos seios fartos. O farol abriu, disse “me desculpa doçura, mas só queria me divertir nesse farol chato, fica pra uma próxima”, “sem problemas, bonitão. Precisando, sabe onde achar a Cléo”. Passou as costas da mão no meu rosto e saiu. Segui reto. Vejo vários saltos e sinto vontade de fotografar essas mulheres tão cheias de histórias. Quem sabe um dia, pois a hora agora é de música. Sim! Música!
Viro aqui e ali e passo por alguns lugares. Todos cheios e infestados de pessoas novas, bestas e bêbadas. Me decepciono, aumento o som, me animo de novo. Passo por uma rua e paro no farol. Observo algumas pessoas tomando cerveja nas calçadas. Elas até olham para mim e logo depois se viram. Viro o carro com o intuito de ficar por ali mesmo. Num estalo lembro-me de um lugar que me recomendaram. Adianto e viro à esquerda. Rua estreita. De paralelepípedo. Paro na frente do local e sinto aquele cheiro selvagem. Vejo pessoas bacanas e o melhor, mais velhas. Penso que esta pode ser uma ótima oportunidade para conhecer o local que tanto ouvi falar. Paro o carro e desço. Entro e reparo na penumbra. Ouço um som distante, lento, pesado e sexy. Sim, é blues! E é aqui que vou ficar. Pulo no balcão e peço uma Dunkel, só para começar. Deixo minhas pernas me levarem para onde meu ouvido me diz para ir. Os olhos entram em colapso, quero ver tudo o que ta rolando por aqui. Cara! Saca só essa galera toda. Pessoas jogadas, algumas bem doidas, só curtindo o som. Descolo um canto, num pilar e observo os músicos. Bebo a cerveja lentamente, saboreio e fecho os olhos, quando meu corpo pede mais do que apenas ver e ouvir. Aplausos, assobios e ovações. Faço o mesmo. Quando vejo já se passaram umas duas músicas. Numa terceira reparo aquela garota. Ela não me olha pela primeira vez. E eu muito menos. Sintonia ou vidas passadas. Realmente não importa. Estou me sentindo bem e mesmo assim tomo coragem para segui-la quando sai do local, me jogando um olhar curioso. Ela para no bar para pegar um drink, peço outra cerveja. Ela encosta os cotovelos no balcão e balança as pernas no ritmo da música, agora um pouco mais agitada. Faz bico como quem gosta do clima e da música. Mas faz bico pra fazer charme. Me viro em direção a ela e não falo nada. Ela me olha e solta um sorriso. Ambos sorrimos. Minha cerveja chega. Reparo naqueles olhos atraentes. Dois pequenos abismos repletos de succubus. Um sorriso tímido e agradável. Não demonstra timidez, mas nem por isso decidiu falar muito. Não era preciso. Ela é arquiteta. Não me impressiono, afinal tantos são os arquitetos que conheci que possuem extremo bom gosto. Teorizo sobre. Ela ri e diz que na sala dela só tem um bando de garotos filhinhos de papai que acham legal “brincar de arquiteto”. Apesar do comentário, me pareceu forçado. Sugiro sentarmos em uma mesa. Ela aceita. A conversa segue agradável. Nenhum flerte, nenhuma brincadeira boba, nem momentos de constrangimento e nenhuma pressa. Gosto. Respiro fundo. Ela sorri. Ficamos quietos olhando o movimento.
- O que foi? – Diz numa voz curiosa. Voz doce.
- É que eu busco algumas coisas na minha vida. Momentos assim, fazem parte dessa busca.
- E o que é esse momento para você?
- Isso tudo. Não sente?
- Hum. Talvez. Mas aposto que não esta próximo de como eu aproveito isso.
- Hum – Tomo um gole – Bom saber que esta aproveitando, mas não pretendo sentir mais ou menos. Só pretendo que não levante dessa mesa.
- É mesmo?
- Precisamente.
- Então vou pegar uma cerveja.
- Não! Amigo! Opa!
Se aproxima um rapaz bem animado.
- Pode pedir. – Digo eu.
Reparo em como apóia o braço no encosto da cadeira para fazer o pedido. A alça da blusinha cai. Pele sujestiva. Ela arruma enquanto pede ao garçom.
Um casal bem vestido acaba de entrar. Um homem já com uma certa idade vestindo um blazer azul escuro. Achei bacana. Bem bacana aquele azul. Um grupo ri mais atrás de algo que nunca saberei. Garotos barbados no estilo Los Hermanos. E quase dou risada em reparar como as garotas que estão com eles parecem ser bem mais novas. Giro um pouco a visão e reparo numa garçonete linda dando alguma explicação sobre cerveja para dois rapazes. Um deles reafirma alguma coisa e o outro discorda. Foi uma piada. Dão risada. Uma garota vestindo um blusão moletom do Mikey Mouse e uma calça leg acaba de passar na frente da minha visão. Passa cambaleando. Ela para, vira pra minha direção e olha para o infinito. Parecia estar pensando, mas não, devia estar curtindo uma bela trip. Afinal, naquelas roupas, é só o que podia estar fazendo.
- Hahahaha. Queria saber o que tanto entretém ela.
- Olha. Realmente não sei, mas por mim ela pode ficar ai até amanhã ME entretendo – disse eu
- Pode apostar que ela vai ficar ai um tempão.
- Ou achar que ficou um tempão.
Rimos e voltamos ao assunto. Não lembro bem o que era. Falava pouco, mas com convicção e cautela para não se expor muito. Me abstrai. Foram os olhos, mais do que a alça da blusinha que tanto incitou meus desejos carnais. Malditos olhos. Foi difícil. Deveria ser difícil para qualquer homem. Certeza! Ela percebeu que quase falava sozinha, mas gostava, se sentia bonita. Chamei para irmos ver a banda que estava voltando da pausa. Vamos bem juntos, lugar pequeno. Sinto seu cheiro. Dou graças de não ser cheiro de puta, nem de tiazona, nem de patricinha, nem de menininha. Era cheiro de mulher. Man! Que mulher! Curvas que não escapam dos meus olhos. Confesso. Não tinha uma beleza estupenda como de atrizes de filmes, mas era bonita. E aquele charme, meu camarada... Sabe mulher? Pois é. Mulher!!! Não procuro por bonecas de porcelana.

- Dança comigo?

Oooh boy! Que noite!

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"Do you feeeeel like swimming?"

sábado, 13 de novembro de 2010

Suprise! You're Dead!

Num susto eis que pula em cima de mim. Resultado de tantas indecisões. Cá estou no chão, sentindo a face pulsando. Assusto-me por alguns segundos pensando que agora será meu fim. Recobro minha consciência e resolvo desviar do golpe seguinte. Tento organizar algumas idéias, planejar um contra-ataque. Penso em todos os dissabores que terei daqui em diante e em como as coisas vão mudar. Uma pena que tudo muda de gosto. Nesse caso, sinto gosto de sangue. Caio no chão de novo e recebo diversos golpes. Não consigo pensar, falar, nem reagir. Surto e escapo para tomar distância e refletir e respirar. Sinto as dores, mal consigo ficar em pé. Sou fuzilado por uma ansiedade e preocupação. Um dos meus órgãos não esta assim, aquele mar de rosas, justamente por isso, me imagino num hospital não importando o resultado desse conflito.

Diabos!!!

Mas que tipo de atitudes são essas? É duro enfrentar uma criança crescida e forte. Seres maduros só chegam a tais circunstâncias quando as condições para a compreensão se tornam nulas e floresce o atrito da ira e os santos não batem e as arrogâncias viram pauta e a voz alta se torna constante, assim como o monossílabo. Isso aqui é ridículo! Preciso parar de pensar.

Saco!

Me joga uma garrafa, que me pega na perna. Não sinto nada, vou pra cima...

Mias um dia acordando sentindo dores. Ainda estou vivo e não estou tão ferrado assim. Mais um dia triste. Fico triste pelas perdas que tive. Por tudo que aconteceu. Lá se foram algumas amizades. Temo a verdade, de que nenhum segredo será contado para mim. Não farei parte de reuniões e serei excomungado para todo o sempre. Temo que não terei visitas, além daqueles que realmente me valem a pena........................ E quer saber, no fundo, penso que só eles me importam. Terminam então as lamúrias. Alguém entra no quarto, passo um dia muito bom. Fecho o olho e durmo sem remorsos, sem medos e cheio de certezas.