quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Indo para casa.

Uma capa preta, uma figura sem rosto e uma palavra, “Home”. Assim somos apresentados a um dos melhores CDs do The Gathering.

Há muito tempo venho ouvindo esse CD com afinco, deleite e carinho. 2006 para ser mais exato.

Este sempre me trouxe muitos momentos de lucidez, pureza, reflexão e felicidade. Mas somente ontem, enquanto deitei pra dormir, fui capaz de sentir o quanto ele me fazia recordar de boas coisas, sobretudo a minha infância. E foi assim, que minha noite acabou ficando mais longa do que deveria ser.

Veio como uma brisa boa.

Lembrei de fotos, de brincadeiras, sentimentos e todo aquele modo de encarar o mundo como fazia quando criança.

Senti saudades...

O sentimento é parecido com aquele que tenho quando ouço alguma das minhas bandas favoritas de post-rock. Talvez pelas muitas influências deles nesse estilo ou pelo jeito de tocar aquele “atmospheric rock” que só o “Gathering” sabe fazer. Independente disso vou tentar descrever o quanto o clima é elevado a décima potência e ainda consigo me manter estável.

Primeiramente me sinto acolhido no sopro que já foi uma vez a voz da Anneke e adentro num outro universo, mágico, criado por toda a banda.

Imagine-se em meio a uma catástrofe, com todas as esperanças perdidas e o amor esquecido, alguém chega sem compromisso e te abraça. Um abraço morno, ameno, suave, que te faz fechar os olhos e querer dormir ali para sempre. Faz você se sentir quando era criança e alguém que você gostava muito te fazia parar de chorar. Depois ambos caiam na risada.

Lembro agora da minha irmã. Já faz tanto tempo...

Éramos sempre muito ligados, mesmo quando nada acontecia.

Ela me apresentava o mundo e todas as coisas boas que pai e mãe nunca iriam me apresentar. Jogava o mundo na maneira real que ele é. Me fazia pensar sobre isso, sobre as coisas. Me dava força. Me ajudava a compreender quando necessário.

É chato lembrar que nunca me despedi e que estávamos brigados por aqueles dias. Chega amargar meu coração até sentir o gosto saindo pela boca. Independente do que já me foi dito, isso nunca foi embora.

Lembro o quanto já aconteceu conosco.

Eu, pentelho adorava encher ela e ela por sua vez curtia tudo três vezes mais. E corria atrás de mim como se fosse um monstrão que iria me devorar. Hahaha. Tudo era doce, calmo, cheio de luz, mesmo nos momentos mais densos. Abraços como o citado. Sem contar os beijos que eu odiaaaaava. Hahahaha.


Travei agora....... Saudade...........................


Lembranças importantes.

Elas nos ajudam a lembrar quem nós somos.

Não podemos esquecer que ainda somos crianças independente da idade, da rotina insana e caótica do horário comercial, dos estudos, família e ‘n’ obrigações diárias. Acabamos nos afastando de nosso verdadeiro eu. Com o tempo esquecemos e perdemos nossa própria essência.

Pense comigo, naquele momento feliz que você teve quando criança. Todos os seus amigos e amigas, as brigas, as brincadeiras, os amores engraçadinhos, toda a criatividade que tínhamos para nós e para o mundo.

E hoje? Há algo disso com você? Algo que possa pelo menos substituir de forma perfeita?

Mas não pense você que faço uma crítica. Isso não é uma afirmação de que nada de hoje presta, de que somos merda. Entende?

Se você entende isso e vê da forma que vejo, sabe que descobriu um dos segredos da vida sem nunca ter notado. Isso também é viver. Não tem nada tão bom quanto vivenciar essas lembranças novamente. Objetos e abstratos. Cores e amores. Ah... Deve ter coisas melhores, mas agora não quero nem saber delas.

Disseco os momentos detalhe por detalhe. E fico sorrindo como me lembro de cada detalhe “bobo”. Não há espaço para reclamações. Não tem como dizer que a vida antes era mole e que não tinha contas pra pagar. É Até ridículo estar agora ali, dentro de você mesmo e não “ir com a corrente”, mas deixar-se afetar pelo externo.

Interessante o que uma música pode fazer conosco. Um som melancólico, que não de uma forma triste, me leva ao passado e posso claramente ver tudo neste exato momento. Materializa-se num estalo. Pulo pra outro momento com a agilidade e facilidade que um esquilo faria.

Uma música amável, com um andamento sensível e com o poder da paz.

Como um copo de água no deserto, uma lembrança perdida e agora reencontrada, um sentimento bom, um carinho na cabeça, um sopro de alguém no seu machucado após passar remédio, uma brincadeira cheia de gritos, um abraço, um sorriso, um lugar especial.

Home... É como voltar pra casa, mas a sua casa interior. Aquele lugar que ninguém pode ir senão você.

Meu coração aperta. Respiro fundo e fecho os olhos. Fico de lado e me encolho na cama. Durmo como bebê.



P.s. Obrigado Vitor. Entendo perfeitamente o que disse sobre a infância.

Dedicado a Elisabeth Fagundes Marinho.

Um comentário:

  1. Tá vendo só como você escreve bem?

    Invista bastante nisso e esqueça essa coisa de estilo...escreva o que vier na sua cabeça, isso basta. :)

    E adorei o texto de hj.

    Beijos

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