quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Devaneios noturnos

Estou a dirigir após uma noite no cinema. Deixo meu camarada em casa e pego o caminho para a auto-estrada, direto pra minha cama.

Mas a noite esconde os seus feitiços.

Não há sensação melhor do que sentir o vento quente do verão batendo no rosto. Luzes de todas as cores tingindo sua pele. Pessoas que param ao seu lado no farol e você logo imagina o que elas poderiam estar fazendo. Sente-se louco para conhecer um pouco mais daquelas figuras interessantes que rodeiam as ruas e praças. Quanto mais se vão às horas, maior o silêncio e maior é a sensação. Ruas que parecem formigueiros de dia são tomadas por alguns gatos pingados sem rumo. As pessoas riem, flertam, fumam, bebem. E nada parece demais.

Dobro algumas esquinas até uma subida que da num viaduto. Paro no farol mais uma vez. Um carro cheio de garotas e um cara dirigindo fazem o mesmo a minha esquerda. Eles parecem cansados, apenas indo em frente. Meu rádio está alto o suficiente para roubar o olhar de uma delas. Abre o farol e sigo em frente. Faço um balão e pego a auto-estrada. Enquanto aumento a velocidade, percebo a lua crescendo atrás de algumas nuvens. O céu esta limpo, mas aquelas nuvens insistem e marcam presença. A lua começa a crescer e me olha com todo aquele esplendor. Não me pede nada senão senti-la. Abaixo dela, a cidade cheia de arranha-céus brilhantes. As luzes amarelas brincam com as outras. Posso sentir que estou ganhando vida. Troco a música porque sei o que me espera.

O bendito saxofone. Aquele clima me nocauteia com peso. Meu tecidos relaxam, minha mente se desliga, Meus olhos caem. Aumento o volume. Os lábios se racham num sorriso insano. Respiro fundo e sinto toda a magia me contagiando. Um pó mágico que me foi jogado e toma conta rapidamente das minhas veias. Mas é apenas ar. Me sinto vivo.

Um gosto, um cheiro, não sei, só sei que é doce. Não pertence a lugar nenhum senão a minha mente. Dou cores e odores aos momentos.

“So many ways, to get a lift. So many ways to get your head unzipped”

Canto o verso sorrindo.

Não tenho com o que me preocupar e isso é o que importa agora. A dama da noite me dominou, eu mesmo quem quis. Sou todo dela agora.

Contemplo a cidade, contemplo a lua. Poderia tirar uma foto. Uma foto em vão. Sei que não entro nesse mundo de novo.

Penso em quem poderia me acompanhar nisso. Queria poder passar isso pra ela, queria que sentisse. Se sentisse seduzida pelo momento, pelo som, como nunca sentiria por homem algum. Ela sorri, me toca e se vai. Não é ninguém.

Um placebo, uma droga, um orgasmo revigorante. Atinjo a sóbria embriaguês desse momento e deixo a inércia me levar pela estrada. Estou chegando ao fim da descida e tudo que penso é em escrever sobre tudo isso.

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